O palhaço

sexta-feira, 21 de outubro de 2011 Postado por Lucas Guerinni
É preciso rir. Não sei bem ao certo do que se deve rir, mas de fato o riso deve a sua existência à desgraça. O nosso grande Joaquim Maria sabia disso e nos alertou a respeito da curiosa desavença entre carteiros e Leis de Newton. Pobres filhos de Hermes! Não herdaram as asas do pai. Bem, não sei ao certo do que se deve rir. Penso que desastres não acontecem tanto quanto supomos. Ao menos é plausível que estes não nos toquem o sentido sempre que ocorram. Perseguimos então a companhia de arautos. Um Fiódor Pavlovitch que saiba nos lembrar da desgraça à qual estamos condicionados e fazer com que liberemos toda essa nossa cólera em forma de ruídos estranhos, contrações musculares e falta de ar. Os arautos da desgraça do mundo são muito mais agradáveis que apenas a desgraça do mundo, ainda mais para seres linguísticos. Sabemos dar valor à inefabilidade das coisas e quando alguém quase atinge aquele tal ponto intangível ficamos bobos e damos gargalhadas. Tudo simples, sem violência ou tropeço de carteiro. Apesar de tudo, não sei ao certo do que se deve rir. Talvez não haja um dever na questão, mas um direito. Temos o direito de fazer aquilo sobre o qual não temos controle. “Vou rir”, “Ah, vou não”. Não, não é direito, é providência. Deve-se rir porque no começo era o Caos e a Escuridão e eis que surge um Palhaço. A realidade objetiva é até interessante para o palhaço, mas a grande fonte de suas piadas é a sua própria perspectiva. Vamos, é chamar um palhaço à uma festa e ver que é ele o único sério do lugar! Ora, é bom lembrar que palhaços são tristes. Parece-me que o riso é para eles tão enfadonho que foi necessário pintá-lo em seu rosto para poupar-lhes o desgosto de rir.

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